domingo, 2 de dezembro de 2012

Da moldura





Na ausência  
do retrato

marcada presença
do azinhavre
no metal da moldura

Indefinido
é o tempo
agora

dias de dedos sobre o teclado

se imprimindo
escrita
marca que não se apaga
e vai se somando
a outras tantas

nódoas
cicatrizes subcutâneas
incrustadas camadas

transparentes

(ausentes no retrato)


Abril, 13 de 2012
Fotografia, marlene edir severino

domingo, 28 de outubro de 2012

Água-viva





Domingo.

O dia se desprende,
vagarosamente escapa
pelas beiradas da espera,

água-viva
lenta, solta no mar
da Praia Brava.

Bocejo
do teu insonoro e desolado
falar sem palavras:
sem corpo, sem cheiro
sem pele,
nem espero.

Acho que não quero mais.

Maio, 01 de 2011


Fotografia de Marlene Edir, Praia Brava
Publicado no Céu de Abril, Maio de 2011

domingo, 30 de setembro de 2012

Do vento





Em silêncio
despeço-me
de cada instante errante
mutante
nenhum horizonte
vislumbro nesse tanto mar

Ilha
anônima transito
trôpega
e no frescor do dia
ninguém desconfia
varre
o vento
onda

na areia
apaga rastros
nenhum vestígio fica
Estranho silêncio
mantém
internamente

quase
tudo no lugar

Suave engano


Fotografia, Sidarta
Setembro, 25 de 2012

sábado, 25 de agosto de 2012




Quando canso do silêncio da casa,

faço versos pra te encontrar.

Escondo solidão em palavras soltas,

solto-as no ar!



Imagem, aquarela de Marlene Edir
Publicado no meu livro "Além do Quintal, poemas e aquarelas", abril de 2011

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Da madrugada insone





Velhos anseios
à tona

incertezas tantas
cegueira
de quarto escuro

tateia
insone na madrugada
esbarra em móveis

e objetos fora de lugar
enrodilham-se
nas correntes

que arrasta
por toda a casa


Aquarela, Marlene Edir Severino
Julho, 07 de 2012


domingo, 3 de junho de 2012

Que rosto terá este dia?





Olhar o foco
da vida
da janela

Jazz

Impreciso instante
folha amarelecida
ao vento
plana

Chuva fina
no movimento da folha
cai

Invisível desapego
silêncio
partilhado na manhã

Breve noite
Dia imenso.


Fotografia de marlene edir severino
Junho, 3 de 2012


sábado, 19 de maio de 2012

Do instante da rosa






Então

esta manhã acabou
feito pétala da rosa
(vi da janela) no instante
que despetalou

A rosa deixou de ser
mas isso nem é triste
é outro
instante


Fotografia, Marlene Edir Severino, do quintal
Maio, 19 de 2012


sábado, 28 de abril de 2012

Iluminado o Olhar





                                                              Há palavras que surgem oscilando sonâmbulas
                                                              há outras que entremostram a nudez no linho do seu pudor
                                                              há algumas que são apenas formas de água ou desenhos do vento
                                                                                                                                        António Ramos Rosa








Guardado
relâmpago que iluminou tantas vezes o olhar
metálico timbre do tom da voz
até o riso se ouve

ruído ressonante da rotina na rua
entra no quarto e vê-se ainda
desatados corpos isentos de pudor
Do lado de fora nenhum olhar

via
e nem cabia imaginar
a tanta entrega, o abandono
naquelas tardes fugidias

Meras imagens
agora hesitantes feito plumas no ar
cintilam

ainda


Fotografia de MarlenEdir
Abril, 26 de 2012



                                                                 





quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mastigar Silêncios



Se é ausência
não sei

mas conheço bem
o vazio
da hora
no instante parado
cerimonioso
em que o dia termina

Nenhum som
sai da boca
nem palavra alguma
no preto da tinta
sobre o papel

nem promessa

habita
esse silêncio


Depois da cinza
remexida
sem viço a terra
fica

nenhum poema
brotou

(Imagem: fotografia de Marlene Edir Severino)
Abril, 04 de 2012



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Anônimo Sax




Manhã de sábado:
um som de sax
da casa ao lado -
abrupto,

irrompe o ar.
Abro a janela
e os cômodos todos da casa
dormem.

Esqueço o armário de louça
aberto;
estupefatos,
ruídos cessam

e a rua
nua
veste-se de acordes,
enche de graves
tons do sax

a muda manhã.



Fevereiro, 4 de 2012
(Imagem: fotografia de Marlene Edir Severino)


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobretons





Fascinam-me
rosados
roxos,
azuis aveludados dos tons
das hortênsias:

mistura
a aranha
na teia
tantos sobretons;

em nuance pastel
remexe-se a presa
envolta no véu.


(Imagem: fotografia de Sidarta)
Janeiro, 02 de 2012