quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lápis-lazúli




Pendente no pescoço
o coração
pingente de lápis-lazúli
que me deu

A tarde se prende num fio invisível

Desprendo-me do sorriso
livro-me dos poemas
sem pena
a tarde se foi

Conservo o coração
em azul escuro
de lápis-lazúli

a noite se fez

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Julho, 28 de 2011

domingo, 17 de julho de 2011

Instante




E em todo esse silêncio
o mais difícil mesmo é decifrar
o que nele está contido:
coisas caladas, perdidas sem nome

em invisíveis transparências.
E fico a olhar nuvens,
a mastigar palavras

e nos passos pela casa,
sorvo este instante

de indefiníveis invisibilidades.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Julho, 17 de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Papel Amassado




Rotineiro dia,
tanto nada:
de tantos pássaros no final da tarde,
um vento que bate a veneziana,
a folha que plana
antes de juntar-se a outras no chão

e as árvores cada vez com menos folhas.
Um nome pronunciado, quase sussurro
a não quebrar o silêncio. Sopro
da mesma ausência de outras margens.

Palavras escritas além das margens do papel,
equivocadas, ilusórias.
Minha boca seca na quase ausência de som.

Papel amassado
guarda alguma poesia.

(Imagem: aquarela de Marlene Edir Severino)
Julho, 08 de 2011