sábado, 22 de novembro de 2014

À francesa





               [a André Bessa]

Esgueirou-se
quase tímido

(e já desconfiava dessa habilidade)

Nenhum indício
qualquer nota
um mínimo resquício
do caminho
ínfimo fragmento
fresta

Nada

Réstia de luz
entre silêncios
e tons

Novembro, 22 de 2014
Fotografia, Sidarta

domingo, 1 de junho de 2014

Som de pedra



Apenas um ruído
fugidio

Mas se me viro para olhar
não passa de outro
hesitante silêncio

(À pedras sobrepostas
o que há para indagar?)

Mas há um cheiro de ausência
que permeia
o ar

Junho, domingo de 2014
Fotografia, Sidarta



sábado, 12 de abril de 2014

E é de Abril o céu





Um sábado sisudo

Intermitentes
alguns pingos de chuva
de gentil sutileza
lapidam
vez ou outra
o silêncio

Nenhuma voz
nenhum vento atrita
a impassível opacidade
do cinza

Do outro lado do tempo
não há relógio
para marcar as horas


Abril, 12 de 2014
Fotografia, Sidarta

sábado, 1 de março de 2014

Orgia





No terreno baldio,
libélulas em sobrevoo –
período de acasalamento.

Abundante iguaria
ao
bem-te-vi.


Março, 01 de 2014

Fotografia, Marlene

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Notícias de Teobaldo





Encontrei o Teobaldo
esturricado
defronte a calçada do vizinho
quase ao lado

A não ser que tenha
tomado sol
em excesso
provável que lhe jogaram
sal
As pessoas temem
sapos

E eu com tantos cuidados
para não atropelar
Teobaldo
enquanto caminhava
a passos lentos
sobre o trilho do portão

Ao vê-lo
senti-me triste
mas que seria da vida
sem liberdade?

Ele quis passear
além do quintal
que habita(va)

E o vizinho
afinal
tem quintal
“de revista”

Fevereiro de 2014
Fotografia, Marlene

domingo, 26 de janeiro de 2014

De sonhos recorrentes





Ainda sonha

com penhascos
resvalos na subida
pés em falso

Descida
em queda livre

arrasta
para baixo
um corpo sem comando
pesado

Acorda
em sobressalto

antes que o solo
abafe
a batida


Janeiro, 26 de 2014
Fotografia, Sidarta