domingo, 16 de abril de 2017







Um olhar na manhã


É pouco o movimento
Tão cedo
o dia mal começa
poucos veículos trafegam
pedestres sem pressa

E o cheiro de relva no ar
exala frescor
promessa

No caminho de saliências reentrâncias
velha árvore expõe a raiz
desvia o trajeto

Tantas folhas se acumulam
esquecidas pelo vento nos rebaixos
na ondulação da calçada
na pedra
que se destaca
mesmo sendo tão igual

Incógnito dia nesta manhã:
até o vento
faz vagos desenhos no céu
quando sopra nuvens

Sem planos
um olhar distante
ao traço que separa o céu do oceano

Ficou mais longe hoje
o horizonte?

Fotografia, Sidarta




sábado, 15 de abril de 2017




 Já olhou o céu hoje?


Venho de um tempo em que criança brincava no quintal e elaborava os próprios brinquedos.

Por não ser permitido brincar além dos limites do quintal, o “espaço quintal” era observado e mapeado em minúcias, em cada forma ou ser, em cada objeto nele contido: a característica peculiar de cada pedra, em suas ranhuras, forma; cada folha caída, em sua textura, cor, ou quase disforme, mero esqueleto de folha; o cheiro bom da florada da laranjeira, a sinuosidade singular de cada galho de árvore, a fruta comida no pé, antes mesmo de amadurecer... E sempre uma novidade, sob um céu de cores e desenhos de nuvens, de renovado encantamento a cada manhã.

Despertar bem cedo, e ficar atenta até sentir o cheiro do café coado que vinha da cozinha, sinal de que a mãe já estava na labuta, era o estímulo para saltar da cama – tantas brincadeiras aguardavam, assim que o céu ficasse tingido pelo nascer do sol.

Olhar o céu tornou-se um prazeroso, e quase abandono de menina, um hábito trazido pela vida afora.

E de tanto olhá-lo, escolhi o que me parece o mais lindo, de indescritível azul, ou coberto por nuvens de chumbo, afinal, todo cinza contém um tanto de azul: o Céu de Abril, eleito para intitular meu segundo livro de poemas.