sábado, 23 de abril de 2011

Mero Instante




Transporto-me para o papel
no silêncio dos cômodos da casa,
atulhada mesa de anotações,
rascunhos, soltas palavras,
interna radiografia de outras
presas na garganta
seca.

Inadequadas
a tentar definir arrebatado,
sub-reptício momento,
inquieta travessia transgressiva
desse instável mapear

instantâneo
de intrínseca geografia,
mero instante.
Anestesiado, integra-se
aos compartimentos vazios,

insonoro,
apropria-se de tudo
num indefinível cerimonial,
instigante traduzir:

agora etéreo.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 23 de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Azul Traço



Anônima transeunte
nem marcas deixam
meus passos
pela rua
e no caminho ouço
eco de passadas
ocas
nuas no chão

Respiro silêncio
quebrado
pela minha pulsação

Nas ruas o muro alto
espreita
encontra-me sua sombra
sombrio vagar

Transporto-me neste poema,
de azul traço engarrafado
atirado ao mar.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 14 de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Além do Quintal: A capa




["e agora a confissão: sabia que a "minha primeira palavra impressa", aconteceria no Brasil..."] Leonardo B.


“Se ao sairmos aos caminhos, pela manhã ou pelas tantas outras partes do dia, na companhia de poemas e aquarelas arrumadas num livro, saídos aos caminhos como se partíssemos para um inventário do dia, esquecidos de nós, levando aconchegadas nas mãos as composições de Marlene Edir Severino, então, o caminho, como todos os passos que o podem compor na composição do poema e aquarela, serão, decerto, espontâneos momentos que nos recordam a provisoriedade do aquém e além, dos vultos que fomos construindo e que na poeira que se insiste no caminho e aí se revela, rumo á finita incerteza da mudança, se revelam neste livro que agora temos entre as mãos.

E se agora enquanto instante, e se depois como breve traço do tempo, tomássemos nas mãos esse cálice de terra, pedaço de livro de tantas horas, que se chama vida ou sereno adiamento da sombra, pacifica e revolta placidez de silêncio, que se murmura nos segredos de quem tem muito por contar, da beleza que só os olhos sem cansaço são capazes de reter, na poesia que entrelaça na imagem, na aquarela que se derrama na palavra, e juntas agora, e se depois, ao caminho, com um livro debaixo do braço, levássemos o tempo, reinventando-o como ao “rosto (que) começa a desenhar-se sobre a superfície do tempo”, como sublinhou Yourcenar acerca da memória, da construção tranquila do tempo?

Então, todo o caminho, todo este livro que trazemos connosco, constrói-se na margem também, na sombra que já não se sabe hesitar e acorda na palavra entalhada na aquarela do dia, em todas as suas possibilidades, em todos os seus sóis ou chuvas breves e bem delineadas, nos carreiros aconchegados pela pedra esquecida, no rebordo da praia resguardada pela aba do mar, pela ruas e avenidas desgastadas pelos passos perdidos e achados, pelos lugares onde todo o caminho é livro, transbordo de vida, paragem maior muito além de onde o caminho começa, além do mínimo olhar, além do vasto quintal”

Leonardo B.
Bizarril, Janeiro 2010

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lançamento do Livro Além do Quintal


Breve Nota: Aos que não conhecem a autora e seu trabalho, importante informar que Além do Quintal, poemas e aquarelas, não foi contemplado com nenhuma lei de incentivo, ou qualquer outro, empresarial e os apoios mencionados no convite referem-se a disponibilização do espaço da Fundação Cultural, ao convite e coquetel a ser oferecido durante o evento.


domingo, 3 de abril de 2011

Que Partiu



Madrugada que se arrasta,
o som da chuva na vidraça
e a escorrer lá fora
telhado abaixo

ensurdece ruídos
de cômodos vazios.
Dos balbucios da calada madrugada,
fica o descompasso

do desolado silêncio
que partiu.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 2011