sábado, 9 de abril de 2011

Além do Quintal: A capa




["e agora a confissão: sabia que a "minha primeira palavra impressa", aconteceria no Brasil..."] Leonardo B.


“Se ao sairmos aos caminhos, pela manhã ou pelas tantas outras partes do dia, na companhia de poemas e aquarelas arrumadas num livro, saídos aos caminhos como se partíssemos para um inventário do dia, esquecidos de nós, levando aconchegadas nas mãos as composições de Marlene Edir Severino, então, o caminho, como todos os passos que o podem compor na composição do poema e aquarela, serão, decerto, espontâneos momentos que nos recordam a provisoriedade do aquém e além, dos vultos que fomos construindo e que na poeira que se insiste no caminho e aí se revela, rumo á finita incerteza da mudança, se revelam neste livro que agora temos entre as mãos.

E se agora enquanto instante, e se depois como breve traço do tempo, tomássemos nas mãos esse cálice de terra, pedaço de livro de tantas horas, que se chama vida ou sereno adiamento da sombra, pacifica e revolta placidez de silêncio, que se murmura nos segredos de quem tem muito por contar, da beleza que só os olhos sem cansaço são capazes de reter, na poesia que entrelaça na imagem, na aquarela que se derrama na palavra, e juntas agora, e se depois, ao caminho, com um livro debaixo do braço, levássemos o tempo, reinventando-o como ao “rosto (que) começa a desenhar-se sobre a superfície do tempo”, como sublinhou Yourcenar acerca da memória, da construção tranquila do tempo?

Então, todo o caminho, todo este livro que trazemos connosco, constrói-se na margem também, na sombra que já não se sabe hesitar e acorda na palavra entalhada na aquarela do dia, em todas as suas possibilidades, em todos os seus sóis ou chuvas breves e bem delineadas, nos carreiros aconchegados pela pedra esquecida, no rebordo da praia resguardada pela aba do mar, pela ruas e avenidas desgastadas pelos passos perdidos e achados, pelos lugares onde todo o caminho é livro, transbordo de vida, paragem maior muito além de onde o caminho começa, além do mínimo olhar, além do vasto quintal”

Leonardo B.
Bizarril, Janeiro 2010

3 comentários:

  1. Que belo texto. Uma capa assim já enriquece o livro. Leonardo B. é, sem dúvida, um dos grandes escritores que conheci nestas recentes viagens virtuais. Parabéns!

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  2. Uauuuuuuuuuuuuuu!!!

    Foi realemnte um casamento perfeito, Edir e Leonardo.

    Tudo tão lindo, cada palavra e as cores deve estar realmente um presente aos olhos, além do coração.

    parabéns, meus queridos!

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  3. Boa noite.

    Estou lhe seguindo.
    Maria Auxiliadora (Amapola)

    Um grande abraço.

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