quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Certeza




Apenas uma porta que bateu com o vento
porque a esqueci aberta,
talvez a espera, na viagem que fiz
olhando a rua através da janela:
velho hábito antes de dormir,
conferir se o portão ficou mesmo fechado,

deixei o texto inacabado,
mas pude assim
constatar mais uma vez a solidão da rua deserta,
quando o vento livremente dela se apossa
a varrer as folhas, algum papel deixado,
todo cisco,
até mesmo alguma marca de anônimo passo

(ficou algum vestígio dos meus passos?)

Mas o vento ainda é frio
e já quase primavera,
antes de fechar a porta, a janela,
olho o céu pintado de luzes,
espalhadas estrelas parece que me contam de ti
e dos faróis de um solitário carro na rodovia,
esquecida, fico a imaginar a tua madrugada.

A lua é cheia, nem percebera
e o vento secou todas as poças d’água da calçada.

Deixo o eco de tudo lá fora
Quem sabe vá bater no opaco vidro da tua redoma,
cada vez mais tênue fica tua imagem
e a minha
certamente de ti já se dissipou.

Fecho a janela
e retorno a minha mesa.
Anônima,
retomo meu poema, minha falta de rotina,
toco a vida, falo pra mim mesma:
- não poderia mesmo ser de outro jeito!

Tento convencer-me disso
antes de dormir.


(Imagem:Aquarela de Marlene Edir Severino)
Setembro, 13 de 2011

2 comentários:

  1. Oi Marlene, voltei a te ler... Que poema lindo, doce e triste. Muito sentimento misturado e sussurando como uma prece.

    Bjs no coração

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  2. Existem dias difíceis, mas amanhã você retoma a caminhada e tudo melhora, até a poesia te espera para um sorriso. Um abraço, Yayá.

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