Já olhou o céu hoje?
Venho
de um tempo em que criança brincava no quintal e elaborava os próprios
brinquedos.
Por
não ser permitido brincar além dos limites do quintal, o “espaço quintal” era
observado e mapeado em minúcias, em cada forma ou ser, em cada objeto nele
contido: a característica peculiar de cada pedra, em suas ranhuras, forma; cada
folha caída, em sua textura, cor, ou quase disforme, mero esqueleto de folha; o
cheiro bom da florada da laranjeira, a sinuosidade singular de cada galho de
árvore, a fruta comida no pé, antes mesmo de amadurecer... E sempre uma
novidade, sob um céu de cores e desenhos de nuvens, de renovado encantamento a
cada manhã.
Despertar
bem cedo, e ficar atenta até sentir o cheiro do café coado que vinha da
cozinha, sinal de que a mãe já estava na labuta, era o estímulo para saltar da
cama – tantas brincadeiras aguardavam, assim que o céu ficasse tingido pelo
nascer do sol.
Olhar
o céu tornou-se um prazeroso, e quase abandono de menina, um hábito trazido
pela vida afora.
E
de tanto olhá-lo, escolhi o que me parece o mais lindo, de indescritível azul,
ou coberto por nuvens de chumbo, afinal, todo cinza contém um tanto de azul: o Céu de Abril, eleito para intitular meu segundo livro de poemas.
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