terça-feira, 21 de junho de 2011

Fel





É madrugada,
a rua dorme,
tanta quietude não me deixa dormir.

Arde vida
debaixo de cada palavra
que escrevo,
fica pulsando
em mim,

e nesse instante
quero que fique presa,
assim me desobrigo
do que não vou dizer
melhor que este silêncio.

E sorvo a inutilidade,
a não-palavra:
seca, vazia,
arestas,
quinas,
fel

da língua.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 29 de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Inseto Na Poça D'água




O dia a empalidecer da janela,
frio anunciado,
escorrida hora, lenta chuva
e um inseto nada

na transparência da poça d’água.
Consumido dia.
Sussurros da chuva na janela
a abrir silêncio. Voo da alma:

fio suspenso, teia,
aranha equilibrista,
úmidas pegadas de inseto na calçada.

Adequar o pulsar à pálida face
da noite que inicia. Lua escondida
entre nuvens no lívido céu.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 19 de 2011